segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A NOVA RELAÇÃO COM O SABER

Idenilton Barbosa*

A partir das considerações do filósofo Pierre Lévy, feitas no vídeo intitulado "As formas do saber", bem como publicadas em "A nova relação do saber", décimo capítulo do livro "Cibercultura", de sua autoria, é possível discutir as bases em que repousa a mutação contemporânea da relação com o saber.

Primeiramente, é um fato inegável a natureza obsoleta das competências no fim da carreira profissional. Ou seja, diferentemente do que se verificava antigamente, a capacidade de um profissional não está mais vinculada apenas ao tempo em que exerce as suas funções, mas à sua capacidade de aperfeiçoar-se e reunir novos conhecimentos. Tempos atrás era comum esperar que um médico mais velho, por exemplo, fosse mais competente do que um com menos tempo de exercício da medicina. Hoje, embora a maturidade ainda continue sendo importante, por outro lado, já não é mais determinante. Se o profissional não acompanhar o atual ritmo ditado pelas novas tecnologias, torna-se obsoleto e, portanto, limitado em sua atuação.

Em segundo lugar, relacionado à primeira constatação, está o fato de que há uma nova dinâmica na transação do conhecimento, de modo que esta não para de aumentar. De acordo com Lévy, trabalhar está associado a aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos. Não se estuda para receber formação e capacitação para trabalhar. A atividade profissional caminha par e passo com a aquisição de conhecimentos. Na verdade, num certo sentido, o trabalho se confunde com os estudos e o contrário também é verdadeiro. Na nova relação do saber, o profissional, independentemente da área, precisa de uma formação permanente.

Outra constatação evidente é a forma como muitas funções cognitivas humanas se amplificam, se exteriorizam e se transformam. A memória humana, por exemplo, antes restrita à sua capacidade de armazenar dados no cérebro, com as tecnologias contemporâneas, tem sua função transferida para os computadores, hardwares e softwares. A imaginação e os raciocínios são possíveis de ser materializados por meio da simulação. A percepção encontra dimensões diferentes de expressão e possibilita um maior grau de interação entre sujeito e objeto. E, por falar em interação, além de tudo isso, as tecnologias favorecem a inteligência coletiva dos indivíduos na proporção das infinitas possibilidades de compartilhamentos dos conhecimentos e saberes.

Deste modo, a cibercultura representa também a democratização dos saberes, tendo em vista que um conhecimento, que antes tinha um único ou poucos detentores, hoje é socializado. E é interessante que não é uma socialização unilateral, nem verticalizada, ou seja, a difusão desses saberes não parte apenas de um ponto e nem é dada de maneira definitiva, sem abertura para modificações, mas em seu permanente e multidirecional percurso, vários são os agentes de distribuição e compartilhamento que, não somente repassa o seu conteúdo, mas também o altera e o ressignifica.

Nessa discussão, é possível perceber uma outra grande diferença em relação à aquisição e ao compartilhamento dos saberes. No passado, a apreensão de certos conhecimentos muitas vezes era impedida pela falta de tecnologia suficiente para explorá-los ou por falta de acesso aos conteúdos por motivos socioeconômicos ou políticos. Hoje, no entanto, embora ainda persista a marginalização tecnológica de pessoas e grupos humanos, determinada por políticas públicas de inclusão insuficientes ou mesmo, em alguns casos, completamente inexistentes, muitas pessoas já têm acesso a todo tipo de informação e conteúdo. Quanto à existência de tecnologias, hoje em dia, sua variedade e alcance parecem ser infinitos. O problema hoje é outro. Justamente por causa desse universo inesgotável de conhecimentos a que se tem acesso sem grandes dificuldades, não é possível abarcar a todos eles. É a realidade chamada por Pierre Lévy de "inacessibilidade do todo".

*Graduando em Pedagogia pela Universidade Federal da Bahia

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

IMAGEM: PRODUTO DA IMAGINAÇÃO

Apesar da tendência reducionista de muitas vezes se atribuir à imagem apenas um caráter ilustrativo, é sabido que, para além de desempenhar uma função acessória, a imagem está tão presente em nosso cotidiano como um instrumento eficaz de comunicação que, em muitas situações, ela sozinha, sem palavras ou qualquer legenda, é bastante para expressar uma ou várias ideias de maneira dinâmica e apropriada.

Isto, é claro, não é privilégio nosso, que vivemos em pleno Século XXI. Porque, as inscrições rupestres, por exemplo, estão aí para testificar que, desde tempos imemoriáveis as imagens tornam possível a comunicação, a narrativa dos fatos históricos, a perpetuação de bens culturais e, sobretudo, a expressão da identidade e dos sentimentos dos indivíduos e grupos humanos.

Com a celeridade característica dos nossos dias, especialmente no que diz respeito aos avanços tecnológicos, não somente nosso contexto sócio-cultural reivindica a oportunidade de interação e intervenção nas imagens, independentemente do tipo, como, felizmente, isto é cada vez mais possível, em relação ao que pode ser alterado, subtraído, acrescentado, enfim, editado, parecendo sugerir a ausência de limites, a não ser na própria criatividade de quem nelas interfere.